Há pessoas que acreditam que possuem uma espécie de privilégio ou mérito, pelo simples fato de conhecerem algo com mais detalhes, uma língua estrangeira, ou porque lêem revistas de notícias variadas (Veja, Exame etc.) e coisas similares. Elas acreditam que são especiais, simplesmente porque possuem um pouco mais de informação que a média brasileira. Acreditam que pensam melhor, e que por pensarem melhor são mais livres.
Maaaassss....
Quanto é que cada um de nós REALMENTE PENSA de forma livre?
Vejam, digamos que eu leia e entenda as ideias de Jung, de Sócrates, de Buddha, de Thoreau e de diversos pensadores. Ainda assim, minha mente estará limitada pela cultura adquirida. Schopenhauer certa vez disse que todas as pessoas tomam os limites de seu próprio campo de visão, pelos limites do mundo. Assim, mesmo que eu venha a conhecer muitas coisas, mesmo que eu acompanhe as notícias, mesmo que eu me informe sobre Política, entenda de Arte, conheça alguns países e algumas línguas, ainda assim meu mundo continuará sendo limitado por aquilo que conheci. E onde há limite próximo, não há uma liberdade propriamente dita. Para ultrapassar os limites do conhecimento adquirido, o único meio efetivo é a experimentação, a reflexão.
Refletir, considerar, ponderar... Colocar-se em solidão e questionar consigo mesmo os conhecimentos adquiridos. Esta é a verdadeira essência do pensamento. Este é o verdadeiro ato de pensar. O verdadeiro pensamento livre só pode ser criado pela reflexão. Toda a razão dou a Sócrates, por afirmar que uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida. Pois quem não reflete, não pensa. E quem não pensa acaba por ser nada mais que um plagiador de ideias alheias, um bonequinho que acredita que é livre, mas não é.
Mas, sinceramente, quantas vezes na vida você já parou tudo o que estava fazendo e se colocou em profundo pensamento? Quantas vezes você já questionou sistematicamente as verdades propostas e impostas pelo convívio social? E não me refiro aqui a um questionamento superficial, do tipo “a televisão aliena as pessoas”. Tenho fortes dúvidas sobre a efetividade de se chegar a uma opinião após pensar apenas por alguns minutos. E pior o faz quem apela para aquilo que chamam de "brainstorming". Duas cabeças pensam melhor que uma? De jeito nenhum!
Pensar profundamente é difícil, e cansa. Mas o homem veio ao mundo para a luta, não para o descanso.
Experimente, pelo menos uma vez por mês, avaliar mentalmente algo em que você acredita. Valide ideias, conceitos, dogmas... Não aceite nenhuma ideia sem que exista uma sólida fundamentação validada em teus pensamentos. Não importa se a ideia veio de uma autoridade, um religioso, um empresário ou um sábio. Um argumento só deve ser aceito após profunda análise. Pensar é viver. Então por que se contentar com pensamentos vazios?
Dirija-se a um lugar vazio, contemple o pôr do sol em solidão e ponha-se em conversação consigo próprio por uma ou duas horas.
Há quem considere que ficar sozinho é ruim. E de fato será ruim, se a pessoa tem pensamentos vazios. Mas como pode alguém gostar das ideias de uma pessoa, se nem ela mesma gosta de suas próprias ideias?
Encha sua xícara. Mas, como dizem os budistas, antes de enchê-la com coisas novas, não esqueça de esvaziá-la, de livrar-se das coisas velhas.
Grande abraço!
Everton Spolaor - www.sombrasdarealidade.com.br