O exemplo mais claro e tosco do que estou dizendo está no teor ridículo das conversações. Veja por si mesmo:
Pessoa 1:
- Hoje fiz uma prova de matemática e não consegui resolver nenhuma questão, que horrível...
Pessoa 2:
- Ah, eu não gosto de matemática, mas normalmente me saio bem nas provas.
Ora, a pessoa 1 não estava fazendo uma pergunta. Ela não perguntou se a pessoa 2 gosta de matemática. Notem que a pessoa 2 simplesmente ignorou o que a pessoa 1 disse, e substituiu o argumento dela pelo seu argumento, como se estivesse dizendo “hey, estou me lixando pra você, e agora preste atenção nas minhas experiências, que são muito mais interessantes”.
Se não é possível manter uma mísera conversação com tais criaturas, então por qual motivo algumas pessoas insistem em convidá-las para churrascos, festas, para ir num barzinho e coisas parecidas? Não seria isto uma espécie de delírio psicótico? Uma pessoa diz “ah, hoje eu fiz isso, isso e aquilo” e aí a outra responde “eu fiz isso, aquilo e aquilo outro”, e assim se desenrola um papinho tosco, do qual nada se aproveita. É só um monte de relatos jogados ao vento e que são ignorados por quem escuta. Puro e inócuo monólogo.
De onde vem essa necessidade insana que algumas pessoas têm de estarem sempre cercadas de dezenas de criaturas, pouco importando se a conversa é interessante ou se é uma mísera dejetação de falácias egocêntricas e despropositadas? Por que diachos eu perderia meu tempo tergiversando tolices com pessoas com as quais não tenho a mínima sintonia? Por que diachos ficaria por horas a fio falando da vida de vizinhos, colegas e celebridades idiotas?
Evidentemente, como disse antes, não estou me referindo às conversas com amigos verdadeiros, pois com estes é comum todo tipo de conversação, mesmo se for altamente fútil.
Agora, se a conversa for azeda e fútil tal como uma sopa fria de chuchu velho, e se ainda por cima se dá com alguém com quem não se tem sintonia alguma, então é certo que melhor é a companhia de um cão, ou de um bom livro.
Em verdade, irmãos, eu vos digo que esse meu amplo desinteresse que tenho por conversas fúteis que se desenrolam com falsos amigos nada mais é que um reflexo da indignação que tenho ao constatar que as pessoas só se interessam por bobagens, ignorando centenas de eventos importantes que ocorrem ao nosso redor.
Em tempos passados, que se ofuscam nas minhas reminiscências, eu costumava acreditar que o mundo seria um lugar muitíssimo melhor se nele não existisse tanta gente insensata. Em minha ingenuidade, eu acreditava também que poderia ajudar algumas dessas pessoas a adquirirem uma mentalidade mais livre, mais independente, simplesmente convencendo-as a lerem as obras dos grandes pensadores e a desenvolverem o hábito de questionar as informações que recebem diariamente. Afinal de contas, como dizia Shenstone, a independência é o tonificante supremo da vida.
Não existe liberdade mais importante que a liberdade de pensamento. Copiar a opinião alheia, seguir o que os outros lhe dizem, tudo isso é condição deprimente e que ao longo de milhares de anos tem conduzido o homem a uma mísera existência. Quem gosta de seguir regras e de adotar opiniões alheias é robô ou masoquista. Não tem amor próprio. Nasceu para ser escravo e nem sabe disso.
Meu pensamento era similar ao de alguns pensadores antigos, que diziam que “para mostrar aos insensatos seus erros, é preciso ensiná-los, não apenas deplorá-los”, e por isso eu tinha a mania de discutir, de tentar convencer as pessoas de que é preciso ler, de que não existe uma única verdade, mas várias delas.
No entanto, ao longo dos anos fui me convencendo de que não há salvação. O ser humano é burro mesmo e nos próximos mil anos, no mínimo, assim continuará a ser.
De nada adianta querer mudar a mentalidade de um adulto ignorante. É tempo perdido, assim como o é querer despertar nas crianças o desejo de manterem-se em constante crescimento intelectual, pois estas estão sob a ação de pais ignorantes, de colegas ignorantes, de professores desinteressados, de uma mídia voltada à futilidade, ao besteirol, à burrice pura. E pior, essa gente insana se ofende com quem ousar querer tirá-los da ignorância. É certo que quando alguém começa a pensar, entra em discórdia com o mundo.
Provavelmente, a única forma de mudar este status quo seria voltando ainda mais no tempo, para antes da infância, para a alma da humanidade. Mas para isso seria necessário mudar a forma de ensino, mudar o que passa na mídia, mudar as ideias insanas das religiões, e este é um trabalho hercúleo sobre o qual qualquer ação minha se mostraria pífia.
Assim, acabei por pensar tal como diz um velho ditado:
"Jamais dê conselhos. Os ignorantes não darão qualquer importância, e os sábios não precisam".